Por Paulo Roberto Hapner – presidente do IHGPR. 

Compareci no último dia 25 de outubro de 2022, terça-feira, no mesmo horário de nossa atividade no IHGPR, na rua Curupaitis, 1132, no bairro da Santa Quitéria, quando se realizou a solenidade em homenagem ao Coronel João Gualberto Gomes de Sá Filho, patrono do 12º BPM, ali localizado. 

Durante a cerimônia, mencionaram a presença do presidente do IHGPR; dando ênfase aos descendente do homenageado que ali estiveram também presentes, em número de seis (6), colocando uma coroa de flores no monumento ali existente.  

Resolvi, então, como colaboração ao referido estabelecimento militar, para conhecimento de seus integrantes, fazer algumas considerações sobre o Combate do Irany, entregando-lhes uma fotocópia completa de meus trabalhos a respeito. 

Retirei do texto, algumas passagens que me parecem elucidativas, porque foram consequência de nossa ida ao Irani, na comemoração dos cem anos do combate do Banhado Grande, quando o nosso confrade Dr. Josaphat Porto Lona Cleto oferece ao IHGPR uma cópia do processo criminal existente na Comarca de Palmas, referente aos fatos daquela época (1912). 

Desse processo, conseguimos resgatar algumas informações históricas importantes, tais como, os militares MORTOS NO COMBATE, que foram: 

1 - Coronel JOÃO GUALBERTO GOMES DE SÁ FILHO (morto por José Fabrício das Neves) 

6 - Anspeçada JOÃO BENEDITO PEREIRA DA SILVA, nascido em 1892, na Paraíba - praça de 15 de dezembro de 1911. 

7 - Soldado ROMÃO DOS SANTOS, nascido em 1889, no Paraná - praça de 20 de outubro de 1911. 

8 - Soldado AFONSO AMANCIO DE OLIVEIRA, nascido em 1889, no Paraná - praça de 20 de outubro de 1911. 

9 - Soldado JOÃO ABLÓ, nascido em 1885, no Paraguai - praça de 18 de abril de 1910. 

10 - Soldado JOÃO MORAES, nascido em 1892, no Rio Grande do Sul (praça de 25 de abril de 1910). 

NOTA - O corpo do coronel JOÃO GUALBERTO foi removido para Curitiba, onde foi velado e enterrado no dia 7 de novembro. Os demais foram enterrados na chamada “Vala dos 21”. 

Outros MORTOS em consequência de ferimento do COMBATE: 

1 - Cabo de Esquadra JOÃO THEODORO MACHADO, nascido em 1881, em Santa Catarina - praça de 7 de janeiro de 1902, morto em 10 de outubro de 1012. (Observações abaixo). 

2 - Soldado FRANCISCO JOSÉ DE SOUZA, em 7 de janeiro de 1913. 

3 - Soldado THEODORO SELEROWSKI, em 6 de março de 1913. 

OBS.:  o cabo do Regimento de Segurança João Theodoro Machado, ferido no combate dos campos do Irany, foi sepultado no cemitério municipal de Palmas no dia 11 de outubro, porém, no atestado de óbito, não constou a causa de sua morte. Por este motivo o doutor Promotor Público Augusto de Souza Guimarães, em 26 de fevereiro de 1913, solicitou a exumação e autópsia no seu cadáver, exame este que foi realizado no dia 1º de março, pelos peritos Cavalheiro Santos Ducati (farmacêutico licenciado) e Trajano Baptista de Oliveira Silvério.  

VALA DOS 21 – próximo ao Banhado Grande. 

 Na “Vala dos 21” foram enterrados nove (9) policias militares, a saber: 2º Sargento Joaquim Virgílio da Rosa; 2º Sargento Luiz Pinto de Macedo; Cabo de esquadra Marciliano Gonçalves Cordeiro; Cabo de esquadra Abel de Jesus Marques; Anspeçada João Benedicto Pereira da Silva; e Soldados Romão dos Santos, Afonso Amâncio de Oliveira, João Abló e João Moraes. 

Constam de certidão expedida pelo Comandante do Regimento de Segurança do Estado do Paraná, de 29 de janeiro de 1913. 

Nessa certidão os dois sargentos aparecem como Alferes, promovidos post-mortem. 

Todos foram excluídos em ordem do dia regimental nº 58, de 25 de outubro de 1912. 

O cabo de esquadra João Theodoro Machado foi excluído em ordem regimental nº 10, de 10 de novembro do mesmo ano, vítima dos ferimentos que recebeu no mesmo combate. 

Dentre os paisanos, sem identificação, presumidos por informações de terceiros, foram ali enterrados: Domiciano Mello, Emygdio Pedro, França de Campos, Francisco Gomes, Guilherme Santos, João da Cruz, José Quirino, Manoel Francisco, Marciliano Domingues, Miguel Vidal, Salvador Vidal e Valeriano Gomes. 

 Esses nomes constavam de uma publicação em jornal de Curitibanos juntados aos autos pelo Promotor Público. Seriam os Pares de França que deixaram de voltar para Santa Catarina, assim informados pelos ex-companheiros e familiares. 

 Em consequência, foram mortos no combate do Irani: 

I - Do Regimento de Segurança: 1) Coronel JOÃO GUALBERTO GOMES DE SÁ FILHO; 2) 2º Sargento JOAQUIM VIRGÍLIO DA ROSA, Alferes post mortem; 3) 2º Sargento LUIZ PINTO DE MACEDO, Alferes post mortem; 4) Cabo de Esquadra MARCILIANO GONÇALVES CORDEIRO; 5) Cabo de Esquadra ABEL DE JESUS MARQUES; 6) Anspeçada JOÃO BENEDITO PEREIRA DA SILVA; 7) Soldado ROMÃO DOS SANTOS; 8) Soldado AFONSO AMANCIO DE OLIVEIRA; 9) Soldado JOÃO ABLÓ; e 10) Soldado JOÃO MORAES (nove enterrados na Vala dos 21). 

II - Seguidores do Monge: 1) Domiciano Mello; 2) Emygdio Pedro; 3) França de Campos; 4) Francisco Gomes; 5) Guilherme Santos; 6) João da Cruz; 7) José Quirino; 8) Manoel Francisco; 9) Marciliano Domingues; 10) Miguel Vidal; 11) Salvador Vidal e 12) Valeriano Gomes, além do próprio Monge que foi enterrado nas proximidades do Banhado Grande, em cova rasa.  

EXUMAÇÃO E AUTÓPSIA

 O doutor AUGUSTO DE SOUZA GUIMARÃES, Promotor Público da comarca de Palmas, em cota de 17 de fevereiro de 1913, requereu a baixa dos autos à polícia para proceder a exumação e autópsia dos cadáveres das praças do Regimento de Segurança mortas em combate e sepultadas no Irani (Vala dos 21). 

A diligência foi deferida pelo doutor JÚLIO ABELARDO TEIXEIRA, Juiz de Direito da comarca de Palmas, no dia 18 de fevereiro de 1913. 

Coube ao Serviço Médico-legal do Estado do Paraná, por meio dos peritos doutores ALFREDO DE ASSIS GONÇALVES e ALCIDES AUGUSTO DE BARROS procederem o referido trabalho pericial de exumação e autópsia dos policiais militares enterrados na Vala dos 21. 

Para tanto, esses peritos deslocaram-se com o senhor GONÇALINO SANTILLAN SILVA, Comissário de Polícia, no dia 18 de fevereiro de 1913, até o local denominado Faxinal do Irani. 

Ali chegando, por volta das duas horas da tarde, o Inspetor Gabriel Fabrício das Neves indicou a sepultura dos cadáveres dos policiais militares, situada próxima da casa de Bento Quitério, donde foram retirados nove cadáveres que devido ao seu estado adiantado de putrefação não podiam ser reconhecidos. 

Foram numerados de acordo com a ordem que foi feito o exame, mencionando os respectivos característicos e lesões apresentadas, para ulteriores verificações. 

O cadáver número um (1) trajava camisa de algodão branco, ceroula também de algodão branco com cós de exephyr, botinas pretas de bezerro e uniforme número três do Regimento de Segurança do Estado. Examinando o corpo os peritos encontraram as seguintes lesões: na metade esquerda do crânio uma lesão produzida por instrumento cortante, com perda de substância, medindo oito centímetros de extensão e interessando os ossos frontal e temporal, se continuando por uma fratura do parietal do mesmo lado; na porção superior ainda do parietal esquerdo, uma lesão de forma mais ou menos circular com perda de substância e tendo bordos irregulares, medindo mais ou menos um e meio centímetro de diâmetro; fratura da porção posterior do parietal direito e occipital. 

O cadáver número dois (2) trajava também uniforme número três do Regimento de Segurança do Estaco com camisa de algodão com peitilho de chita vermelha camiseta, ceroula de algodão branco tendo um “W” (dáblio=duplo V) feito com linha vermelha no cós, meias de algodão de cor cinzenta e botinas pretas de bezerro. Apresentava as seguintes lesões: uma fratura no crânio de forma semicircular começando na metade direita do frontal e se terminando no temporal esquerdo; essa lesão descreve um trajeto de vinte centímetros, produzida por instrumento cortante. No parietal direito uma outra lesão interessando toda a parede óssea, dirigida diante para trás numa extensão de dez centímetros, começando no fim desse trajeto, um outro ferimento que forma com o acima descrito um ângulo agudo; uma lesão de forma circular na porção posterior do mesmo osso, com perda de substância medindo quatro centímetros de diâmetro; uma outra lesão em arco começando na porção do parietal esquerdo e indo terminar no occipital e finalmente, fratura do occipital. 

O cadáver número três (3) trajava uniforme número três, tendo no braço esquerdo da blusa divisas de cabo de infantaria, camisa de algodão com peitilho de fustão, ceroulas e meia de algodão branco. Apresentava na metade esquerda e junção inferior do frontal, uma lesão produzida por instrumento cortante e que formava ângulo reto com outra lesão que partindo da porção externa do mesmo osso se prolongava pelo parietal esquerdo para ir se terminar na porção posterior do parietal direito; fratura da metade esquerda do frontal e finalmente uma fratura cominutiva da metade esquerda do occipital de forma mais ou menos circular tendo bordos irregulares com perda de substância e medindo mais ou menos quatro centímetros de diâmetro. 

O cadáver número quatro (4) trajava uniforme número três, camisa de algodão branco, ceroula também de algodão branco. Tinha no bolso da calça um apito e apresentava as seguintes lesões: uma lesão produzida por instrumento cortante e começando na metade esquerda e porção média do frontal e se continuando pelo parietal do mesmo lado para se terminar por um fratura cominutiva que abrange a porção posterior desse osso e toda a metade esquerda do occipital; fratura do parietal direito se dirigindo horizontalmente para a porção posterior do crânio numa extensão de quinze centímetros. No tronco e membros não nos foi possível constatar lesões. 

O cadáver número cinco (5) trajava como os outros uniforme número três, usava também camisa de algodão e ceroula de algodão branco, pespontando de linha vermelha perneiras e botinas pretas de bezerro. Apresentava as seguintes lesões: fratura do temporal parietal direito porção superior do frontal e anterior do parietal esquerdo; fratura completa do occipital. 

O cadáver número seis (6) trajava uniforme número três, camisa de algodão com peito de exephir riscado de amarelo, meias e botinas pretas de bezerro, tinha no bolso um escapulário com oração de Santo Antônio e munição de calibre 380. Apresentava as seguintes lesões: secção completa do osso próprio do nariz e toda a porção anterior do maxilar superior; fratura completa da porção superior dos parietais, com perda de substância numa área de vinte centímetros quadrados e finalmente fratura do cúbito esquerdo. 

O cadáver número sete (7) trajava uniforme número três, tendo na manga esquerda da blusa divisas de sargento de cavalaria, camisa de algodão com peito de exephyr e ceroula de algodão branco, perneiras de botina preta de bezerro.  

Lesões: fratura da porção posterior do parietal direito com perda de substância numa área de dez centímetros quadrados; fratura do temporal esquerdo; fratura cominutiva da porção posterior do parietal esquerdo; fratura da base do crânio. Morte por instrumento contundente. 

O cadáver número oito (8) trajava uniforme número três, tinha na manga esquerda da blusa divisas de sargento de infantaria, colete preto de casimira e ceroula de algodão, meias e botinas pretas de bezerro. No bolso do colete foram encontrados um relógio com corrente, uma tesoura, uma caneta e um pente. Nesse cadáver não foi possível verificar lesões no corpo em virtude do adiantado estado de putrefação, entretanto, os peritos atribuíram sua morte a ferimentos penetrantes do tórax, do abdômen por instrumento perfuro-cortante. 

O cadáver número nove (9) trajava como os outros uniforme número três do Regimento de Segurança e somente foi possível constatar secção da metade direita do maxilar superior, temporal direito e metade direita do frontal. 

Esses exames constam do auto de exumação e autópsia lavrado pelo Escrivão interino Pedro Alexandre Vieira, assinado pelo Comissário Gonçalino Santillan Silva, peritos doutores Alfredo Assis Gonçalves e Alcides Augusto de Barros e pelas testemunhas Salvador Vieira dos Santos e Antônio de Mello Branco. 

ANEXO 

O enterro de João Gualberto. 

O cadáver do Coronel JOÃO GUALBERTO GOMES DE SÁ FILHO foi exumado no dia 25 e levado para Palmas, onde chegou no dia 28 no fim da tarde, sendo velado na câmara municipal (uma casa de madeira), de onde foi levado para Porto União da Vitória onde embarcaria num trem com destino à Curitiba. Segundo informações imprecisas, no dia 1º de novembro, por volta das 13:40 horas, saiu de Palmas a comitiva acompanhando o corpo do coronel João Gualberto. 

No dia 4 de novembro, uma segunda-feira, chega a Porto União o esquife encerrando os restos mortais do comandante João Gualberto. A comissão que chegou era composta pelos doutores José Maria de Paula e Heitor Gomes, o tenente Júlio Xavier, pela banda de música e por 4 praças feridas. 

Em Porto União grande massa popular aguardava o cortejo fúnebre à grande distância da cidade, indo com a banda musical Carlos Gomes à frente o Clube Apolo, a Sociedade Italiana e a Loja Maçônica. Na Câmara Municipal, em sessão solene, falaram o presidente Sr. Rodolpho Casemiro da Rocha e o prefeito que ofereceu à comissão uma bandeira do Estado para cobrir o féretro. 

O trem especial, que vinha de Curitiba, sairia de Porto União no dia seguinte (5) às 7 horas da manhã, devendo chegar a Curitiba na quarta-feira dia 6, às 2 horas da tarde. Segundo informações via telégrafo, partiu de Ponta Grossa para União da Vitória às 8 horas da manhã do dia 4. Nessa noite o cadáver foi velado por uma comissão da Maçonaria. 

Sabia-se disso porque na segunda-feira, dia 4 de novembro, um trem especial, transformado em carro fúnebre, chegou em Ponta Grossa por volta das 7 horas da manhã e partiu para Porto da União às 8 horas, conduzindo os representantes da imprensa. Aguardava-se a chegada do corpo no dia 6 e, no dia 7 de novembro, às 10:00 horas, seria dada sepultura ao valoroso coronel João Gualberto, seguindo o préstito fúnebre conforme abaixo indicado. 

Após chegada do expresso, às 14:00 horas do dia 6 de novembro, desfilou o cortejo pelas ruas Barão do Rio Branco, 15 de Novembro, Dr. Muricy até o quartel do Tiro Rio Branco. 

No dia seguinte, 7 de novembro, às 10:00 horas da manhã, saindo do Tiro Rio Branco, situado na rua Dr.Muricy (atual prédio do Banco do Brasil, na esquina da Cândido Lopes), desceria até a rua 15 de Novembro, 1º de março (atual Monsenhor Celso) até a Catedral, onde seria rezada a missa. Daí seguiria pelas ruas Barão do Serro Azul, Barradas (atual Carlos Cavalcanti) e América (atual Trajano Reis) até o Cemitério Municipal. 

Na tarde do dia 6 de novembro o corpo chegou ao Tiro Rio Branco. O tempo estava chuvoso e as ruas lamacentas. O salão, todo negro, ornamentado com verdadeiro capricho, com verdadeira arte, apresentava um aspecto profundamente triste e desolador. 

No teto a bandeira nacional, de enorme proporção, pairava sobre o esquife. Os caçadores prestavam a guarda. Visitação constante. Na entrada do ataúde à caserna do Tiro Rio Branco, em surdina, se ouvia a execução da marcha fúnebre “Cleópatra”, por uma orquestra dirigida pelo maestro Bernardo Bonacci. Mais de trezentas coroas foram depositadas naquele local. 

Às 10 horas, conforme estava marcado, foi feita a transladação do corpo do coronel, da sede do Batalhão de Caçadores para o carro fúnebre. Formou-se, então, o préstito tendo à frente a banda de música da polícia. Seguiam-se a escola de Aprendizes Artífices, Clube Curitibano, Sociedade Hespanhola Affonso XIII, Centro Estudantil Paranaense, Sociedade Cervantes, Sociedade Corityba Foot Ball Club, Grêmios Bouquet, das Violetas e Normalista, Sociedade Beneficente Portugueza 1º de Dezembro, Sociedades Sokol, Teuto Brazileira, Thalia, Sangerbund, Cassino Curytibano, 4 landaus enfeitados de veludo preto e galões de prata conduzindo várias coroas; música Giuseppi Verdi, 8 andores de veludo negro e enfeites em prata, conduzindo ricas coroas, 2 bandas de música e o féretro do coronel Gualberto. 

Em seguida vinha o Presidente do Estado, General Alberto de Abreu e bispo diocesano, outras altas autoridades civis, militares, várias comissões, povo, carros e automóveis. 

Chegando à Catedral foi feita a encomendação pelo Monsenhor Celso Itiberê da Cunha, tocando durante o ato uma orquestra a marcha fúnebre de Chopin. 

Saindo da Catedral o préstito seguiu com destino ao Cemitério Municipal percorrendo as ruas Barão do Serro Azul, 13 de Maio e América, chegando ao Campo Santo. 

As honras fúnebres, com as salvas de estilo, foram prestadas por uma companhia do Regimento de Infantaria, com bandeira e música, sob o comando do capitão Napoleão Poeta da Fontoura. 

Debaixo de forte aguaceiro, falaram os senhores doutores Niépce da Silva e Amadeu Cezar.