DISCURSO DE 23 DE MARIO DE 2023.
I – PRIMEIRA PARTE – INTRODUÇÃO.
Seis anos depois de haverem sido trucidados na Serra do Mar seis ilustres cidadãos filhos desta terra, exemplares chefes de família, homens úteis à sociedade, Romário Martins convocava para, nos salões do Clube Curitibano, no dia 24 de maio, a fundação do Instituto Histórico e Geográfico Paranaense.
A uma hora da tarde do dia 24 de maio de 1900, uma quinta-feira, em uma das salas do Clube Curitibano, Romário Martins fez uma exposição sobre o objetivo da reunião e convidou Sebastião Paraná para presidi-la e Ermelino de Leão para secretariá-la.
A diretoria provisória ficou composta pelo próprio Romário Martins, Dario Veloso, Sebastião Paraná e Ermelino de Leão, ficando para o próximo domingo (dia 27), também a uma hora da tarde, para nova reunião afim de proceder a eleição definitiva. A confecção dos Estatutos ficaria por conta de uma comissão formada por Romário Martins, Dario Velloso e Camilo Vansolini.
II – SEGUNDA PARTE.
ATA DE FUNDAÇÃO DO INSTITUTO.
Aos vinte e quatro dias do mês de maio de 1900, quatricentésimo ano do descobrimento do Brasil e quadragésimo sétimo da instalação da Província, nesta cidade de Curitiba, capital do Estado do Paraná, achando-se reunidos na sal da Biblioteca do Club Curitibano os cidadãos Romário Martins, Júlio Pernetta, Drs. Sebastião Paraná e Camilo Vanzolini, Luiz Tonissi e Ermelino Agostinho de Leão, e tendo deixado de comparecer por motivos de ordem pessoal os cidadãos General José Bernardino Bormann, Coronel Jocelyn Morocines Borba, Dario Velloso, Drs. Manoel Francisco Ferreira Correia, Emiliano Pernetta e Nestor de Castro; e sem comunicação de causa os cidadãos Desembargador Bento Fernandes de Barros, Dr. Cândido Ferreira de Abreu, Tenente José da Silva Muricy e Lúcio Pereira – pessoas que tendo publicado trabalhos sobre assuntos do programa do Instituto haviam sido convidados pelo cidadão Romário Martins para membros desta associação – instala-se o Instituto Histórico e Geográfico do Paraná.
O cidadão Romário Martins, ao abrir a sessão, expõe, em brilhantes palavras, os fins da instituição e justificando motivos pede que na eleição que se deve proceder seja excluído o seu nome. Em seguida convidou o Dr. Sebastião Paraná para presidir a sessão, que ao assumir a presidência nomeia secretário o abaixo assinado Ermelino Agostinho de Leão.
O cidadão Ermelino de Leão, pedindo a palavra, declara que o Instituto não pode dispensar o eficaz concurso de seu ilustre iniciador e que não acha bastante poderosas as razões da recusa ao cargo que por ventura a vontade de seus consócios lhe designar.
Termina fazendo neste sentido um apelo ao cidadão Romário Martins.
O Dr. Camilo Vanzolini, usando da palavra, propõe que se adie a eleição da Diretoria, atendendo ao diminuto número de sócios presentes e indica a proclamação de um diretório provisório. Posta em discussão, a proposta é aprovada, unanimememte.
Procede-se, em seguida, a escolha dos diretores interinos, sendo aclamados os cidadãos Romário Martins, Dr. Sebastião Paraná e Ermelino de Leão. São, em seguida, aclamados membros da comissão redatora dos estatutos, os cidadãos Camillo Vanzolini, Dario Velloso e Romário Martins.
Nada mais havendo a tratar, o cidadão Dr. Presidente encerra a sessão, convocando nova reunião para o dia 27 do corrente, no mesmo local e hora, para tratar-se da discussão dos estatutos.
Sebastião Paraná – presidente; Ermelino Agostinho de Leão – secretário; Romário Martins; Júlio Pernetta; Camillo Vanzolini e Luiz Tonissi.
TERCEIRA PARTE – DISCURSO.
Cônscio de minhas limitações, tentarei suprir o inesperado desfalque, por impedimento em virtude de doença, do nosso querido confrade, o digno orador Dr. Júlio Militão.
Suas eloquentes palavras, nesse dia tão solene e cuja simbologia transcende nosso espaço físico, estavam sendo esperadas com a maior expectativa, normalmente, pela beleza de suas construções cheias de sabedoria.
Essa substituição, trata-se de tarefa verdadeiramente impossível.
Reconheço o quão pálida e desmaiada será minha fala nessa ocasião; e deploro dessa minha natural fraqueza.
Conheço os planaltos e as montanhas de nossa terra; e sei o quão difícil galgar até seus píncaros, ao contrário da facilidade com que nosso dedicado confrade Nelson Penteado tem vencido o Marumbi.
Acredito que essa inferioridade desenvolverá em vós essa indulgência e simpatia que se desperta à vista daqueles que tem um dever a cumprir, frente aos ditames de nosso Estatuto.
QUARTA PARTE – HOMENAGEM PÓSTUMA.
Cumpre nessa cerimônia fazer o elogio histórico dos sócios que passaram para o outro lado do caminho.
Nesse dia de risos e de gala, abre-se uma janela para relembrar dos que já não vivem e, por isso, não estão fisicamente aqui presentes.
Vidas importantes pela superioridade de suas inteligências, fecundas pelas lições de probidade e altamente interessantes pelas riquezas do gênio e profundezas do saber; a lembrança de todos quantos nos abandonaram, abalará a vossa alma e será a um tempo a honra e glória de nossa centenária associação.
Não farei aqui a biografia de todos os nossos confrades falecidos que, invariavelmente, dedicaram inúmeras horas de estudo em benefício da preservação de nossa história e precisão de nossas balizas geográficas.
Nesse IHGPR em que fomos tão benignamente recebidos, pela natural composição de seus membros, não temos tempo de enxugar o pranto que cai de nossos olhos sobre a sepultura de um ótimo cidadão quando a morte, esse arauto da eternidade, anunciava mais um habitante às regiões das sombras.
Todas lamentáveis perdas para esta associação! Mais um nome foi riscado da lista dos vivos. Muito fizeram para morrerem ignorados, portanto, ficarão seus nomes registrados em nossos arquivos, livros e documentos como reconhecimento de sua dedicação e vastidão de conhecimentos.
QUINTA PARTE – EXORTAÇÃO.
Estamos há muitos anos clamando no deserto, quando mendigamos aos nossos governantes algum auxílio financeiro.
Durante esses 123 anos de existência, ressentiu-se, sempre, da falta de verbas decretadas pelo Poder Público Estadual para aquisição de novos livros e despesa de expediente.
Um celeiro intelectual, que é o que esse IHGPR representa, além de um edifício mais moderno e confortável, devia receber sem cessar abastecimento de livros, quer para satisfazer as investigações do passado, quer para estimular novas pesquisas do espírito humano.
Nossos antecessores, neste último sentido, pouco material contávamos para o derradeiro quartel do Século XIX que assinalara as conquistas do homem sobre o mundo físico pelas aplicações da eletricidade à indústria e, no mundo moral, à sujeição da própria alma humana à observação experimental.
Essa inquietação permaneceu durante esses 123 anos, contudo, não cessaremos de chamar a atenção do governo do Estado para a conveniência de proteger estabelecimentos desta ordem, que não se destinam ao benefício de uma só geração, mas, que vão armazenando por assim dizer os elementos de instrução, tanto para a atual sociedade, como para os nossos sucessores neste pedaço de planeta.
Tivemos o auxílio, ainda que módico, concedido pelo então governador Ósken de Novais (1982), que obviamente, de um lado, não empobreceria o tesouro do Estado, e, de outro, contribuiria para o aumento do progresso da cultura e do conhecimento dos paranaenses.
LEITURAS:
I - RELAÇÃO DOS FALECIDOS
II - DA ORAÇÃO DO ORADOR.
ROMÁRIO MARTINS - EDITORIAL.
Bem vê o povo paranaense, que o novo Instituto inicia-se já capaz de conquistar os seus patrióticos fins. Sobre a sua utilidade – sobre os serviços que lhe incumbe desempenhar – sobre a sua futura influência em questões de alta transcendência para o Paraná, não precisa, de certo, o público que eu lhe venha dizer algo, pois que devem estar no conhecimento de todo o cidadão as vantagens de associações de tal natureza.
Prevejo para o nosso INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO, uma larga existência de brilhos a refletir-se na terra paranaense, - exaltando os nomes dos seus melhores filhos, - assinalando a influência histórica dos seus memoráveis sucessos, - descrevendo o curso dos seus rios, - delimitando a altitude das suas regiões esplendentes, e expondo, com largos traços vibrantes, a acentuada feição da nossa característica.
Tudo isso nos falta hoje, mas tudo isso teremos no dia em que, com amor e patriotismo, quisermos trabalhar verdadeiramente, sem preocupações de outra ordem que não sejam senão as de prestar ao nosso Estado e a nossa Pátria, tão relevante serviço, e tão merecida homenagem.
Que a nossa vaidade não mate a grandeza da intenção; - que a inveja, - que é do homem, - não anteponha barreiras à passagem da ideia; - que o insucesso dos primeiros embates, não refreie o fogo da nossa paixão; - e, finalmente, que as nossas linhas bem definidas não sejam desmanteladas pela desordem nem pelo desânimo e, havendo critério, patriotismo e trabalho, deixaremos, com certeza, o cunho do nosso vigor assinalando os feitos a que está destinado o INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO PARANAENSE.
Com o Estado, tem ele, de pronto, um grave compromisso. É o de tornar-se um poderoso auxiliar do Poder Público, reunindo dados e estudando documentos, para a exata determinação oficial dos nossos limites com S. Paulo e com Santa Catarina.
E, quem sabe! Se à associação que hoje se instala tão modestamente, não estarão reservadas nesse sentido as mais sérias missões e as mais brilhantes vitórias.
Na organização do nosso Arquivo Público poderá e deverá o Instituto influir, para que ele não continue, como até hoje, a ser apenas a magnífica intenção do Art. 11 das Disposições Transitórias da Constituição do Estado.
No Paraná há grandes problemas a resolver sobre sua história, a sua geografia e, por conseguinte, sobre os diversos ramos correlativos a estas ciências, como a etnografia, a (palexthnologia), etc., problemas que com a criação do Instituto hão de necessariamente vir a discussão e ao exame, e donde lhes advirá, estamos crentes, a luz de que hoje carecem.
Unidos para um fim, faremos num ano o que exigira dez de trabalho disperso.
São do benemérito cônego Januário da Cunha Barbosa, o ilustre fundador do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, em 1838, as palavras ungidas de verdade com que fecha esta resumida exposição da ideia que teve a honra de apresentar ao Estado, o obscuro Paranaense que assina estas linhas.
“As forças reunidas dão resultados prodigiosos; - e quando os que se reúnem em tão nobre associação aparecem possuídos do mais acendrado patriotismo, eu não duvido preconizar um honroso sucesso à fundação do nosso INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO.
Curitiba, 24 de maio de 1900.
Finalizo com a exortação de Romário Martins;
Que a nossa vaidade não mate a grandeza da intenção; - que a inveja, - que é do homem, - não anteponha barreiras à passagem da ideia; - que o insucesso dos primeiros embates, não refreie o fogo da nossa paixão; - e, finalmente, que as nossas linhas bem definidas não sejam desmanteladas pela desordem nem pelo desânimo e, havendo critério, patriotismo e trabalho, deixaremos, com certeza, o cunho do nosso vigor assinalando os feitos a que está destinado o INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO PARANAENSE.
Curitiba, 24 de maio de 2023.
Paulo Roberto Hapner
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